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Os pré-historiadores Dirk Hoffmann e Alistair Pike colhem amostras. JOÃO ZILHÃO |
O descobrimento, anunciado nesta quinta-feira na revista Science, de que os neandertais foram capazes de produzir arte abstrata e complexa é algo gigantesco, mas não surpreendente. Nos últimos anos, graças entre outras coisas a escavações na península Ibérica, na caverna asturiana de Sidrón e nas gibraltarenses de Vanguard e Gorham, a ideia de que foram seres brutos e bastante ignorantes caiu por terra. Medicavam-se, cuidavam de seus idosos, decoravam seus corpos com cores e plumas, foram capazes de produzir desenhos geométricos e possuíam o gene FoxP2, que permite a linguagem.
Mas essa descoberta, amparada em uma nova datação de pinturas, vai além, porque os transforma em nós. A pergunta sobre o que faz com que sejamos humanos tem muitas respostas, mas uma das mais frequentes é justamente essa: a capacidade para produzir arte e contar histórias. Agora sabemos que eles também a tinham. Então, resta a pergunta mais inquietante. O que os levou a desaparecer depois de vagarem pela Terra durante tanto tempo? Certamente não existe uma resposta, e certamente não existe uma resposta única. Nós os matamos? É possível, embora também tenham desaparecido de lugares que os sapiens não tinham alcançado. Mudou seu ecossistema com a chegada de nossa espécie? Adaptavam-se pior às transformações? Será que os deixamos sem caça? Pode ser. Em todo caso, a confirmação da complexidade de sua inteligência constitui uma gigantesca advertência sobre a fragilidade de todas as espécies, incluída a nossa.
Fonte: El País
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